terça-feira, 22 de outubro de 2013

Boneca de Louça


Uma boneca de louça olhando fixamente para o espelho
A boca rosada
Delineada
Olhos com olheiras verdes
E nariz de borracha
Ela será uma pintura?
Será um desenho?
Será uma fada?
Ela se quebra ao me / io
O espelho se que / bra
Parece comigo
Olhar                    distante
Longe desse meu mundo
Torpe
Torto
Sóbrio e vazio
Quer um beijo
Quer diferente
Quer agora
Me engole
Me mastiga
Me ra / s / ga ao meio e cospe
Ela dorme
E a imagem ainda reflete
Ela sonha
Mas acorda
Os gritos a acordam
O cheiro fétido a acorda
O homem idiota a acorda
E ela se altera
Quer morrer
Ir além
Do chão de pedra sabão
Do colchão azul que lhe entorta as costas
Que doe os ombros
Que a tiram da ilusão de ser triste
Ou feliz
Ou amarelo
Ou rosa choque e bolhas
Ela quer mais
Quer comer
Devorar
Se entupir
Ela precisa partir do próprio corpo
E vê no amor um espírito
E tem medo de amá-lo
De encostar em seus lábios e ter a alma sugada
Para qualquer lugar que não seja esse
Que não tenha pecado
Que nada seja proibido e sujo e podre e medíocre e te leve ao inferno
Prazer senhor demônio de mim
De cheiro forte de mato queimado
De arranhar a minha garganta
Enlouquecer-me porque você simplesmente me possui
E eu não quero mais
Não posso mais
Preciso me dominar
Saber de mim
Iludir
Iludir
Iludir e me desiludir
E ferir
Te ferir
Nos ferir
Porque não sei o que significa um não
E não
Para mim não quer dizer nada
Parar
Agora
Já estou sufocada
Sem ar
Saudosa
Tonta
Não há mais sentido em ser assim
Louca
Mas também
Qual o sentido de ser sã?
Nesse mundo maldito
E lindo
Prazer senhor demônio
Mas agora me deixa aqui
Sozinha
Olhando essa foto e essas bocas e essas caras felizes
E lembrar desse dia
E querer que ele volte
E querer rever as coisas passadas em brancas nuvens doces de algodão doce
E me amassar no banheiro
E sentir ela me amassar no chuveiro
No sofá
No pensamento
E a mão sedenta de corpo para apertar
E morder os dedos
E ter ciúme de imagens mais bonitas que eu
Tenha piedade
Coragem para morrer ou matar
Ou me acabar em momentos de viagens longas e sem sentido
Em verdades existentes apenas na minha mente
Ou verdades mentirosas que insistem em contar sobre mim
Não sou tão boa assim
Nem tão asquerosa
Sou apenas fácil e sentimental
Sou apenas falta de nexo e sexo todos os dias
Agora
A partir de hoje
A partir da música mais doida que eu
Mais rouca
Mais alta
Mais fluente
Acabou
Minhas palavras
E frases chatas
Decadentes
Infantis
Inúteis
E cansadas
E sonolentas
E necessárias para mais esse dia
Em que escrevo
E acho que isso tudo é algo de dentro de mim
Mas escrever não é nada que me contenha
Ou que me impeça
Apenas me alegra
Dedos
Frenéticos dedos
Tempo
Não tenho mais tempo
Amanhã o dia amanhece mais cedo
E hoje a noite ainda vai ser longa
Eu brigando com meus pesadelos
Boa noite demônio
Até qualquer dia desses
Mas repito
Foi um prazer incomparável conhecê-lo


 04.09.2006 - 21:27h